A Fonoaudiologia e o TDAH
O texto de hoje é uma contribuição da fonoaudióloga Débora Cristina Alves, especialista em Linguagem e Psicopedagogia, mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e Diretora Clínica do Instituto de Diagnóstico Multiprofissional (IDM). Ele aborda a atuação de uma área importante no tratamento do TDAH: a fonoaudiologia.
É sabido que o TDAH é um quadro clínico bastante prevalente na infância e na adolescência, sendo resultante da interação de alguns fatores genéticos e ambientais.
O diagnóstico do TDAH é predominantemente clínico tendo como características os sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade de acordo com os critérios estabelecidos pelo Diagnostic and Statistical Manual of Mental Health Disorder. Estes sintomas levam a um comprometimento nas atividades cotidianas, na vida acadêmica e nas relações sociais.Estudos neuropsicológicos têm demonstrado alterações em funções executivas nos portadores de TDAH, o que inclui dificuldade na resolução de problemas, flexibilidade mental, inibição cognitiva e comportamental, controle motor e auto-regulação.
Devido a essas alterações nas funções executivas, principalmente déficits atencionais e de controle inibitório, os escolares com TDAH podem apresentar dificuldades de linguagem. Os aspectos da linguagem mais prejudicados nesses escolares são o fonológico, o sintático e o pragmático.
As dificuldades de atenção e de hiperatividade apresentadas por esses escolares, associado ao prejuízo na linguagem oral podem comprometer o desempenho acadêmico.
Habilidades como a memória operacional, a consciência fonológica e a nomeação automática podem estar prejudicadas nesses indivíduos, o que trará como consequência alterações nas habilidades de leitura (decodificação de uma palavra, por exemplo, quando o escolar começa a ler corretamente o início de uma palavra e depois inventa o restante; e compreensão/interpretação de texto) e escrita (cópia, ortografia e organização das ideias, para elaboração de respostas ou produção textual, por exemplo).
Cerca de 80% dos casos de TDAH sem tratamento adequado apresentam baixo rendimento escolar sendo que destes, por volta de 45% repetirá pelo menos um ano escolar. O TDAH pode estar associado, à cerca de 30%, com transtornos específicos de aprendizagem como a dislexia, a disgrafia e a discalculia.
Além da dislexia (que é um transtorno específico da leitura), os escolares com TDAH, também podem ter uma alteração do processamento auditivo (como causa primária ou secundária), que contribui para com o aumento das dificuldades acadêmicas.
O fonoaudiólogo é o profissional que atua na promoção da saúde, prevenção, avaliação e diagnóstico, orientação, terapia e aperfeiçoamento da comunicação humana, em todos os aspectos. Dentre as áreas de competência deste profissional está o aprimoramento das habilidades de linguagem oral e escrita.
Diante de todo comprometimento que os escolares com TDAH podem apresentar, reforça-se a necessidade de tratamentos multimodais para este transtorno. O emprego de fármacos associado à terapia comportamental tem demonstrado ser o tratamento mais efetivo para melhorar os sintomas de desatenção e hiperatividade, enquanto que o tratamento fonoaudiológico visa aprimorar as habilidades comunicativas, como a organização do discurso e a ampliação do repertório linguístico, o processamento auditivo, com atividades para aperfeiçoar as habilidades de atenção auditiva, fechamento auditivo, memória auditiva, figura-fundo para sons linguísticos e a consciência fonológica.
Para aqueles que ainda apresentam a comorbidade da dislexia, compete ao fonoaudiólogo, integrar a equipe de avaliação para auxiliar no fechamento do diagnóstico, bem como intervir nos aspectos relacionados a aquisição e/ou aprimoramento das habilidades de leitura e escrita, em todos os aspectos alterados.
O fonoaudiólogo também atua na orientação familiar e escolar, auxiliando coordenadores e professores a encontrarem uma melhor maneira de conduzirem esses escolares ao sucesso acadêmico.
E sobre o TDAH em adultos, a fonoaudiologia tem alguma contribuição?